Tiradentes 2018

O feriado de Tiradentes em 21 de abril, um sábado, segundo o calendário 2018, relembra um importante episódio histórico do Brasil, a Inconfidência Mineira. O contexto é o seguinte: no início do século XVI, foram descobertas em Minas Gerais as maiores jazidas de ouro até então conhecidas no mundo. A documentação que sobreviveu da época é suficiente para afirmar que Minas produziu mais ouro que em toda América Latina. De lá saiu mais ouro que das lendárias minas maias no México e ganhou-se mais dinheiro que em 300 anos de mineração de prata em Potosy.

O ouro mineiro financiou a boa vida da Coroa Portuguesa por menos de um século, que retia a título de imposto 20% do total exportado, o “quinto dos infernos”, como os brasileiros chamavam a cobrança. A maior parte do ouro, no entanto, não ficou com Portugal. Nem com o Brasil. Sem o menor interesse em transformar esse capital em atividades produtivas, brasileiros e portugueses simplesmente esbanjaram-no. No Brasil, além da realização de festividades religiosas que duravam semanas, o principal emprego do ouro foi a construção das centenas de igrejas no interior de Minas Gerais, ricamente adornadas com o metal e prontamente saqueadas assim que começou a rarear. Em Portugal, o destino do ouro foi o pagamento dos sucessivos empréstimos tomados pela Coroa aos banqueiros ingleses, muitos dos quais de forma irônica descendentes dos judeus expulsos do país ibérico no século anterior.

Dessa forma, o ouro brasileiro foi repassado à Inglaterra, que com ele estruturou a maior industrial naval até então conhecida, elevou o iniciante tráfego de escravos a um status globalmente profissional e, mais tarde financiou, a Revolução Industrial. Com o tempo, ocorreu o óbvio. As jazidas mineiras se esgotavam, a produção caiu, mas a Coroa não aceitava a diminuição de suas receitas. Sempre que a cota não era atingida, o exército luso fazia as cada vez mais frequentes “derramas”, a apropriação de ouro de particulares, gerando grande insatisfação. A situação chegou a um ponto que no fim do século XVI a elite mineradora organizou um levante malfadado, prontamente sufocado. Um jovem militar de nome Joaquim Barbosa da Silva Xavier, que integrara o movimento por simpatia ideológica, não por interesse financeiro, já que humildemente exercia o ofício de dentista para complementar seu limitado soldo militar, foi o bode expiatório da história. No dia 21 de abril de 1789, foi enforcado, seu corpo esquartejado e exposto aos quatro cantos da província. Assim criou-se Tiradentes, o soldado-dentista, nosso primeiro herói nacional.

imagem: Resposta de Tiradentes, Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro

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